História de todos nós (continuação)

(...)
-- Mas que se passa aqui? – as palavras da avó ecoaram pelo nevoeiro, num misto de preocupação e curiosidade.
Nesse instante, todos os olhos se voltaram para ela… Tiago, Raquel, André e Melissa nada conseguiam dizer, submersos no mesmo medo: seria este o fim da aventura?
Um delicado roçar contra o mosaico liso do chão quebrou aquele silêncio demorado: a bola Saltitona rodava, lenta e compassadamente, levantando uma brisa leve e com um aroma especial… Cheirava a morango e baunilha! Estrela enterrava o nariz entre as patas e voltava a espreitar, tentava escapar àquele perfume que os seus amigos tanto pareciam gostar. Não eram os únicos… a avó parecia estar enfeitiçada por aquele cheirinho e por aquela bola de sabão, tão grande e reluzente, que se arrastava na sua direcção. Olhava-a fixamente, intrigada e ansiosa por lhe tocar.
Então, a bola mágica parou de rodar a escassos dois passos da avó. André foi o primeiro a perceber o que a avó estava a sentir, por isso, não estranhou ao vê-la esticar o braço com confiança e tocar na bola Saltitona.
-- Parece espuma! É tão fofa! Como é possível? – dizia a avó sorridente.
Nisto o avô deu um passo em frente, receoso.
Toda a vida tinha sido um homem trabalhador, desde pequeno, e os anos como pescador e nas oficinas a cuidar da madeira envelhecida dos barcos pareciam ter-lhe enrugado não só as suas mãos fortes e ásperas, mas também o sonho. O avô já não acreditava no mesmo mundo mágico com que Tiago, Raquel, André, Melissa e até a avó sonhavam. Na verdade, não se lembrava quando tinha deixado de o fazer… Se é que algum dia teria sonhado… Mal ele sabia o que este dia lhe reservava!
-- Não… - foi a única palavra que o avô teve tempo de dizer enquanto entrelaçava a sua mão na da avó, tentado puxá-la para si.
Nesse instante um corrupio de acontecimentos surpreendeu todos: um intenso raio de sol abriu espaço por entre o nevoeiro triste e cinzento, e acertou em cheio na face translúcida da bola Saltitona! O raio de sol e a bola Saltitona pareciam brincar, alheios aos espectadores que contemplavam aquele espectáculo, fascinados. A bola de sabão rodopiava, subindo e descendo no ar, enquanto que aquele raio de sol deixava um rasto doirado ao girar em torno dela.
-- Está a pintá-la! – disse Raquel às gargalhadas, cujo riso se confundia com da própria bola Saltitona.
A bola de sabão mágica já não era mais translúcida, mas de mil cores!
-- Tão linda!… - exclamou André.
Estrela também parecia fascinada e, num pulo,começou a correr desenfreada em direcção à bola…
-- Não! Vais rebentá-la! – gritaram as crianças em coro.
Era tarde demais… Estrela avançava veloz, não ouvia ninguém, até que…
-- Ah! – avó, avô, Tiago, Raquel ,André e Melissa não contiveram os sorrisos! - Estrela tinha penetrado a bola Saltitona e pairava agora dentro dela, levitando no ar enquanto agitava a cauda contente.
A avó e as crianças entreolharam-se com sorrisos matreiros. O avô adivinhou-lhes os passos, mas, incrédulo com tudo o que via, nada conseguia dizer ou fazer. Com passos ansiosos, os cinco correram em direcção àquela misteriosa bola mágica que parecia ter engolido Estrela. Rodearam-na e deram as mãos. A avó foi a primeira a esticar o pé para dentro da bola Saltitona. Nisto, sorriu outra vez e mergulhou! As suas mãos, com confiança e ânsia, puxaram as de Tiago e Raquel que estavam ao seu lado e, por último Melissa e André.
Estavam agora os cinco com Estrela dentro da bola Saltitona, e flutuavam…
-- Ahahahahahahahah…! - os seus risos misturavam-se e ecoavam no ar…
-- Mas…? Como é possível? Não pode ser…. – o avô baloiçava na alegria das gargalhadas quentes das crianças e da avó e, ao mesmo tempo, na frieza do soalho, que o trazia de volta a uma realidade triste, sem espaço para a magia de acreditar…
Mas eram tão quentes, tão apetecíveis aqueles risos…!
-- Anda avô! – diziam Melissa e André.
-- Sim, vem avô! – exclamavam os restantes
Puxado pelas palavras e gargalhadas o avô deu um passo em frente. Começou a caminhar, primeiro depressa, mas, à medida que se aproximava da bola Saltitona, cada vez mais devagar. O chão parecia querer retê-lo, o avô duvidava outra vez…
-- Mas é impossível! Não pode ser… – murmurava ele.
Então, a bola Saltitona começou a subir mais, e mais - as desconfianças do avô afastavam-na…
-- Oh avô vem! Não tenhas medo! É tão bonito aqui! Anda avô! – gritavam as crianças em coro.
-- Anda avô, vem sonhar connosco…! – a avó falava baixinho, como quem conta um segredo, e sorria.
Então o avô acreditou!
Num pulo cheio de força e vontade esticou o braço, e com a ponta dos dedos tocou na bola de sabão multicolor. Tiago, Melissa, André e Raquel equilibraram-se com os pés e com as mãos contra as paredes da bola de sabão e, ao mesmo tempo, perfuraram-na com os braços; o avô agarrou aquelas mãos abertas, prontas para o puxar.
O avô entrou na bola saltitona!
Ela rodou sobre si mesma, estava feliz! Elevou-se no céu na largura de uma coluna de raios de sol que só a iluminava a ela. Subia, subia, subia cada vez mais alto e o céu ganhava um azul cada vez mais forte, só com uma nuvem branquinha aqui ou ali, como algodão doce!
-- Aaah… como é bonito isto cá em cima! – exclamou o avô sorridente.
-- E ainda não viram nada! – disse a bola salitona.
-- Pois eu quero ver mais, quero mais deste mundo maravilhoso! – exclamou André entusiasmado.
-- Sim! - todos concordavam.
Estava então decidido até onde a bola Saltitona os iria levar… ao mundo onde nunca ninguém se cansa de sonhar, ao mundo mágico do arco-íris!

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